Com alegria vibrante, continuamos a publicação de textos de autoras e autores das mais diversas partes do país... Hoje publicamos um texto de uma escritora paulista, que transborda poesia e beleza em cada palavra...
Queremos agradecer a autora por sua generosidade!
Esperamos que todas e todos gostem!
NUNCA LEMBRO DE ME TRANCAR
Você toma posse de mim sem mero esboço de permissão
Se agarra ao meu corpo por dentro e diz que não vai sair
Você diz que sou eu, e quem mandou ser tão líquida, e quem mandou ser tão porosa?
Pois agora você escorre para dentro de mim e me domina, e me esvazia
Meus pés arrastam o chão de pedras, meus olhos querendo se fechar em lágrimas de café
Você fez com que eu me enchesse de café, por sua causa agora transbordo café
São as inúmeras, ingênuas tentativas de te escorraçar, de me retomar
Que fique de lição para o futuro: para me solidificar mais, para me espessar, me adensar e me vedar
O habitual processo de impermeabilizar o corpo para reter a alma
O corpo aberto é bonito e sensível. A maior beleza do mundo é também a mais sutil. Eu a vejo no ar como fulgurantes rabiscos prateados
Como rasgos de luz intangíveis
A água é como a luz e a luz é como a água (já dizia Gabo)
Agora te deposito neste papel. Você escorre pelas pontas abertas dos meus dedos e pigmenta-se em palavras
Enquanto isso, eu fecho e tranco meu corpo, como uma flor que se desabrocha em um filme rebobinado.
Autora: Veridiana Maricato
São Paulo - SP
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