Esperamos que todas e todos gostem!
INSÔNIA
Olhou-se no espelho. Já passava de meia-noite. Precisava acordar cedo no dia seguinte, mas algo não deixava.
Insônia.
Olhava na direção do vidro, mas não se via. Em vez de olhos azuis, enxergava oceano. Em vez de negros cabelos, via a noite que a cercava. No lugar de boca, ecos profundos de uma natureza desconhecida.
Insônia.
Do mar caiu uma gota, amparada suave pela mão pequena, quase infantil. E se lembrou de que quando era criança adorava pintura. Pegou um lápis, apontou com esmero e contornou o olhar. Como se brincasse com purpurina, fez brilhar as pálpebras. Nas maçãs do rosto, colocou de leve pó rosado. E nos lábios, ah, que lábios, de leve usou tinta lilás.
Insônia.
Abraçando sua própria tristeza inquieta, fez dos cabelos um tear. Trançou as mechas escuras em longa trama. E finalizou tudo com um aroma suave de rosas.
Insônia.
Queria viver, sentir, amar, parir. Queria adrenalina circulando em suas veias. O velho espelho já não servia mais. Desejava dentro de si, sua imagem refletida em outros olhos. E a insônia a lançava.
Lançava.
Cansada de tudo, saiu.
Deixou a rua levá-la.
Por entre estradas tortas. Viu luzes, sentiu cheiros, ouviu sons, soltou-se sozinha a dançar.
Insônia… Insanaaa….
Autora: Carolina Pessôa
Rio de Janeiro, RJ
Obs.: Esse conto foi publicado no livro SALTO PARA O DESCONHECIDO, que saiu pela Editora Penalux...
Mais informações no link abaixo:
0 comentários:
Postar um comentário