sexta-feira, 1 de abril de 2022

HELENE

Publicamos hoje a melancolia poética de um escritor do interior de São Paulo, que nos honrou com sua bela escrita!

Esperamos que todas e todos gostem!

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HELENE


    No raiar de uma manhã assombrada, os raios tímidos e infantis do sol quebraram a escuridão e trouxeram de volta a esperança. Com o amanhecer, renascem os sonhos e as aspirações que o dia, hostil e vilipendioso, transformará em ilusões, da mesma maneira que um espelho engana uma pessoa.

    Renato acordou cedo. Levantou-se da cama e sorriu. Era um dia especial. Por isso, o sol brilhava mais forte, e o ar cheirava a flores do campo e tinha gosto de água de poço. Assim como Helene. Helene. Desde que a conhecera, o nome o fascinara. Era suave. Lembrava o sol na primavera.

    Era primavera. Por isso, o sol brilhava mais forte. Renato tomou um café, um banho e espreguiçou-se ao sol. Ainda era cedo. Mas logo ia sair para encontrar Helene. Não precisava ter pressa, ela, com certeza, o esperaria. Não podia ir muito cedo, pois talvez ela achasse incômodo que ele fosse vê-la tão cedo, num domingo. Qual seria o horário certo para um encontro? Por que o homem cria horários para algo que não pode ser limitado pelo tempo? O amor precisa ser cronometrado, preso nas sujas engrenagens de um relógio, devendo existir só em um ou em outro momento?

    Mas o sol brilhava forte (era primavera) e isso mostrava que o dia deveria ser especial. Saiu de casa, pegou seu carro e dirigiu em direção a Helene. Sabia que faltava algo, e sabia o que era. Não podia ir ver sua namorada sem levar algo para ela. Mas Helene era como água de poço. Levaria para ela uma flor, ainda molhada com o orvalho da manhã, com as lágrimas com as quais a natureza premia sua criação.

    Parou num jardim. As flores cresciam sob o sol forte da primavera. Não encontrou nenhuma molhada com orvalho. Mas Helene entenderia. Saberia que ele não era culpado. Ele a entendia, afinal a conhecia há tempo. Tempo que não sabia mais dizer quanto era: um mês, um ano, um século. Era sua namorada.

    Então, chegou até ela. Desceu do carro e cruzou o largo jardim, onde a grama estendia-se verde e bela, sob a luz do sol. A grama é bela, principalmente quando se estende até onde a vista alcança, como se fosse o mar, só que a água é verde e você pode caminhar sobre ela, flutuar sobre as águas. No meio do oceano estava Helene. Caminhou até a lápide fria e depositou a flor, sem orvalho, sobre ela. Era sua namorada (há muito tempo, com toda certeza), o sol da primavera brilhava forte e isso fazia o dia belo, a grama parecia um mar verde e isso era o suficiente para ele.


Autor: Fábio Amâncio

São Roque, SP


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