Hoje publicamos a poética potência de um escritor cearense, que nos traz uma importante reflexão sobre os tempos atuais...
Esperamos que todas e todos gostem!
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DEPOIS DE TUDO, A PALAVRA
o tempo
a palavra
pretos aquilombam narrativas
meninas redigem infâncias
a palavra
o tempo
sem-vidas ocupam espaços
bacuraus atocaiam reticências
o tempo
a palavra
silêncios extenuam exclamações
párias alforriam versos
a palavra
o tempo
janelas escorrem sentidos
máquinas segregam ideologias
palavra
sossega o grito
o que te espera é sina
de infância
o mundo ressurge de teu rescaldo
com a estranhosa urgência da mudança
tempo
atravessa a avenida
desconcerta os aparelhos
oculta no retorcido
de tuas pontes
a soberba dos inocentes
palavra
repara o outrora
dos aposentos
experimenta
o dito
e o não dito
prolifica
tempo
partitura semovente
sorve do espasmo
as vozes
erige tua senilidade
na película cálida
do discurso
palavra
atua em teu nome
alimenta fatalidades
recupera o posto
de desaparição
e entalhe
tempo
aquieta o remoço
dos ponteiros
inscreve no retrato
em feitio oval
as tramas do recomeço
palavra tempo
tempo palavra
faces do mesmo sopro
a palavra não se ergue
onde existe medo
essa invenção de anjos
incapazes de conceber
a inevitabilidade
da carne
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