Hoje resolvemos nos posicionar em relação ao assassinato absurdo do jovem trabalhador congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, brutalmente espancado até a morte por ter ido cobrar suas diárias de trabalho em um quiosque na praia da Barra, no Rio de Janeiro.
Esse crime não pode ficar impune e todas as pessoas que ocupam espaços de expressão social devem se manifestar contra essa barbaridade! Aliás, o país deveria parar, até que esse crime fosse solucionado...
Em virtude disso, vamos publicar hoje um texto de um escritor nigeriano que nos deu a autorização através dos nossos parceiros do Mídia Remota!
Que esse texto possa servir para uma reflexão sobre a situação do racismo no Brasil, que está cada vez mais grave e insustentável!
QUADRAS NEGRAS, QUADROS NEGROS
Esses versos gritam vozes silenciadas
Que ecoam nas perversas naus eternizadas,
Onde insensíveis mãos brancas nos colocam
Em sistemas que oprimem e sufocam.
O chicote, em nossa carne, estala;
Nosso corpo é atravessado por uma bala
Que de perdida não tem nada,
Pois a nós sempre esteve endereçada.
Durante os dias, sempre nos dizem bandidos,
Durante as noites, sempre somos “desaparecidos”,
Jogados em valas, com primazia logística,
Que transformam nossas vidas em escala estatística.
Somos o último fio da navalha,
Somos sempre quem não trabalha,
Com a gente, a arma nunca falha,
Estamos sempre largados no campo de batalha.
A morte é nossa companheira de rotina,
Vivemos com a cabeça na guilhotina,
Enquanto uma branquitude sabidamente maligna
Torna a nossa vida, dia a dia, menos digna.
Todas as vidas importam!
É o que os humanistas de plantão exortam,
Mas o que nenhum deles diz
É que a vida preta é sempre arrancada pela raiz.
É chegada a hora da reação!
Vamos varrer dos campos dessa nação
Qualquer vestígio dessa gente corrompida,
Desse cidadão de bem, que acaba com a nossa vida.
Ká jagun!
Vamos à luta!
Ecoemos a palavra bruta,
Cavando sem medo a nossa saída
Dos becos que construíram para prender nossa vida!
Igbesi aye!
Autor: Diara Olugbenga
Escritor nigeriano radicado no Brasil. Nasceu em Kaduna, no ano de 1978, vindo para o Brasil aos 21 anos de idade, após aquele que ficou conhecido como o Massacre de Odi, ordenado pelo líder do país, Olusegun Obasanjo.
Texto muito bonito, preciso e forte. Parabéns!
ResponderExcluirVocê tem toda a razão, Talita!
ExcluirTexto maravilhoso! Palavras que não nos levem somente à reflexão, mas também a ação.
ResponderExcluirEsse foi um dos motivos que nos levou a optar pela publicação do texto, Denise!
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