terça-feira, 25 de janeiro de 2022

TECNOFILIA

Continuando nossa ideia de publicar textos e autoras e autores diversos, trazemos um conto muito interessante, de uma escritora do Ceará...

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E agora o texto da nossa colega cearense!


TECNOFILIA


    Ele encarou com satisfação a sua descoberta. Era um aparelho feio, uma caixa disforme com um funcionamento relativamente simples, mas elaborado, considerando-se que foi criada no Velho Mundo. Os homens do passado a chamavam de Televisão e ele achou o nome apropriado. Enxugou as mãos suadas nas calças e ligou o aparelho na tomada. No início, só havia o vazio e então milhares de pontinhos pretos e brancos apareceram na tela. 

    Ele observou atentamente os pontinhos que pulavam completamente envolvidos em seu movimento contínuo e sem propósito, ele começou a refletir se os pontinhos estavam em guerra, em comunhão ou em ambos e pensou pela primeira vez se realmente existia uma diferença significativa. Percebeu que aqueles pontinhos contavam uma história sobre o início de tudo, sem precisarem dizer absolutamente nada, uma guerra sem fim e sem vencedores, um movimento constante e sem avanço. 

    Os pontinhos eram completamente realizados em sua insignificância, soldados orgulhosos em sua guerra desonrada, eram a morte, a dor e o mundano lutando pelo equilíbrio com a vida, o prazer e o divino na existência dos homens que buscavam a glória do Céus, enquanto inconscientemente desejavam a imundície da vida terrena.

    Ele não conseguiu tirar os olhos da Televisão, ficou completamente envolvido naquela guerra, que era tanto sua quanto dos pontinhos. Deixou de trabalhar, dormir, comer e eventualmente foi expulso do aluguel que morava, mas não temeu, afinal os pontinhos estavam com ele. Fundou um culto, se autodenominou de O Espectador, apresentou a Televisão para seus contemporâneos e em poucos dias a humanidade foi arrebatada pelos pontinhos. 

    As pessoas lutavam para chegar perto da tela, arranhando e mordendo se fosse necessário, eram capazes de qualquer  ato para estarem próximos de seus amados pontinhos e descobrirem na tela as respostas para as perguntas macabras que assombravam suas almas inquietas.

    Um dia a televisão quebrou e a humanidade entrou em colapso. Guerras, crises de todos os tipos, golpes militares, doenças generalizadas e calamidades sem fim tornaram-se rotineiras. As pessoas lutavam freneticamente para sobreviver até não saberem ao certo contra o que ou quem estavam lutando. Na falta de respostas e movidas pelo desespero decidiram matar O Espectador que, ao ser condenado, sorriu alegremente e disse: 

    “Tudo ocorreu exatamente como os pontinhos previram.”


Autora: Ana Cláudia Barros Fontenele

Fortaleza, CE 


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