terça-feira, 23 de novembro de 2021

MANIFESTO DO ARTISTA CORROMPIDO

Apesar de seus 17 anos de existência, penso que o texto abaixo ainda levanta algumas reflexões pertinentes ao nosso cotidiano atual, principalmente das pessoas que lidam com a arte enquanto atividade frequente...

Espero que todas e todos gostem!

Ajudem a divulgar o nosso trabalho!


MANIFESTO DO ARTISTA CORROMPIDO


Sou artista? De qual arte?

Quais as preocupações que povoam a minha mente?

Questões sem resposta

Ou respostas que eu não queria ter

Para não precisar assumir a minha real condição.

Não faço arte!

Faço parte de jogos de sobrevivência.

Minhas preocupações são contratos, salários e contas

A receber, a pagar e a apagar.

Não lido com ideias, com imaginação,

Lido com papeis e relatórios.

Virei um burocrata perdido no meio do vazio.

Minha arte está à mercê das alianças dos donos da minha virtude.

Paradoxo do artista falido.

Sou respeitado, sou admirado, sou temido,

Fodido e bem pago.

E tudo isso para quê?

Para sustentar a vaidade dos meus semelhantes.

Para fortalecer a roda da fortuna, iludindo aqueles que estão fora dela

E tornando mais poderosos aqueles que a movimentam.

A minha arte, que já deixou de ser arte há algum tempo,

Está na corrente do senso comum.

Está servindo a sua pureza essencial em uma bandeja de ouro,

No banquete dos antropófagos,

Que se alimentam da força vital do homem,

Vomitando excrementos de sucesso e solidariedade.

Podem me dizer que minha arte serve para ver crianças sorrindo,

Mas eu não quero crianças sorrindo, quero crianças felizes.

E entre essas duas coisas existe um oceano

De jogatinas políticas e desvios educacionais.

A arte grita para mim, querendo ser verdadeira.

Eu ouço seu grito e quero gritar também.

Quero pular do alto das plataformas de petróleo 

E voar no meio das nuvens cinzentas

Para esculpir raios e cantar trovões.

Quero atingir o sol e queimar o seu calor com a minha paixão.

Quero perfurar a atmosfera como um meteoro enlouquecido

E mergulhar em um rio poluído,

Para fazer parte da verdadeira merda da vida.

Porque, nessa minha arte atual, 

Até a merda que me dão é falsa.


Autor: Roman Lopes

Guarulhos - SP

Escrito em 2004


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