PARADOXOS
INTERDISCIPLINARES
Sem a preocupação hipócrita com uma imparcialidade impossível e ilógica, você conta a nossa história com a dose certa de rigor realista e um maravilhoso excesso de leveza brincante...
Tal como um gênio expressionista, você deforma a realidade vazia, dando a ela contornos fortes e cores marcantes, para daí extrair a essência dessa própria realidade aparentemente negada... De mãos dadas com Van Gogh...
Tal
como um exímio cordelista, que retira da simplicidade de seus versos a magia de
um mundo fantástico, que acaba por se tornar o retrato mais fundamental da
própria vida, você nos embala na energia saudosa de Suassuna...
E
conta a nossa história...
A
história de jovens guerreiros que são loucos pelo que fazem... E que vão à
luta, brandindo suas armas feitas de orquídeas e vestindo suas roupas de
retalhos que lamentam e clamam, dançando para as pessoas como loucos entre
paredes... Stanislavski e Laban dançando um tango em um velório...
A
história dos falsos reis, que temem a força do populacho ensandecido em busca
de seus territórios e que por isso tentam confina-los em sanatórios, alegando
não entenderem o idioma que eles falam... Mas o grito deles nos alcança...
Casamos com as suas bailarinas e com as suas faxineiras...
E por
mais que os tais reis fulanos tentem arrancar as nossas línguas, com facas
prateadas de falsos prêmios, nós é que arrancamos deles a tranquilidade...
Anarquia necessária... Bakunin discursando em cima da mesa onde se comem os
pasteis dos reis com falso enchimento, que entram e saem dos seus palácios
espelhados com a maior cara de pau, apenas para defenderem seu soberano máximo
de suas próprias falcatruas...
Mas esses
reis estão com as pulgas atrás das orelhas, porque alguns autóctones resolveram
se mostrar... E eles não sabem mais como catequizarem todos esses índios, pois
eles se dividem em mais de trezentas e oito etnias diferentes... Alguns
resolveram tirar as suas roupas e dançaram a dança da chuva de ouro dentro do
próprio palácio espelhado...
E você,
historiador de primeira ordem, nos conta toda essa história, que é a história
da nossa cidade natal, transgredindo a gramática... Transformando as
reticências em pontos de exclamação, fazendo com que o belo caos das nossas
vozes dissonantes deixe de ser uma oração subordinada, para que seja um último
suspiro de alento aos que buscam a simples verdade...
Que
os tais reis dessas histórias fiquem distantes de nós, sentados em seus tronos
corrompidos, escancarando suas bocas para que as máscaras não caiam, tendo como
única diversão as piadas repetidas de seus palhaços ultrapassados ou, como
segunda opção, as suas próprias piadas sem graça... O que eles querem é somente
perpetuarem seus próprios nomes... Nem que para isso eles precisem se
transfigurar em outros animais tidos como menos nobres, em um monólogo
narcísico de si mesmos...
Mas
não se preocupe se eles quiserem protagonizar a sua história... Porque a sua
geografia, mestre cartógrafo, é maior... E mesmo que eles saiam da condição de
coadjuvantes e migrem para o elenco principal, ela não será alterada... Porque
essa geografia foi escrita por sua pena potente e lenitiva, que buscou nos
cursos dos nossos rios as curvas primordiais e nas alturas dos nossos
precipícios os ângulos definitivos de um relevo repleto de vales depressivos e
florestas multicoloridas...
Ela
nos convida para uma grande festa de versidões, para em praça pública entramos
em comunhão e transformarmos a nossa tragédia em brilho, vertendo sangue de
groselha e comendo bolo de areia... Cantiga de roda das mais sérias... Falta só
o glacê desse bolo... Mas ele virá, seja por um novo caminho, seja pelo caminho
velho...
Puxa lindo texto, você escreve lindamente!
ResponderExcluirMuito obrigado por suas palavras!
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