quinta-feira, 6 de maio de 2021

SOBRE RAPOSAS E TROFÉUS

Depois de publicar alguns versos indignados, quero trazer a todas e todos estrofes sonhadoras e ternas, pois nas condições em que estamos em nosso país atualmente, amar é também um ato de resistência, mesmo um amor fantasioso, distanciado da realidade...

Espero que todas e todos gostem!


SOBRE RAPOSAS E TROFÉUS

 

O brilho opaco do laço esgarçado

Mantendo o coração em território atrofiado,

Que se espalha pela mesmice da distância do horizonte.

 

A memória ilusória de uma culpa insistente

Martela a ferro em brasa o coração ausente,

Construindo muros e torres de cárcere privado.

 

As palavras que antes eram acalanto

Soam agora espinhos que estrangulam a memória,

Na sonoridade deformada do fim de uma história.

 

Caminho pelas grades de um pentagrama,

Nas notas de uma canção de acorde único, desafinado,

Ecoando lembranças perdidas em ritmo sufocado,

Que bailam nos salões vazios da solidão...

 

Tudo nessa jornada indica solo infértil,

Onde a semente estéril apodrece ao vento quente,

Onde a sede do amor seca sob o céu ardente...

 

No entanto, quando a lua abraça o sol,

Madrugacendo aurora estonteante,

Os campos de trigo ressurgem em ondas de ouro vibrante.

É a palavra delicada, esticada à duração do instante.

 

Uma raposa linda abraça um velho rei,

Na tradução inversa de uma poesia solta.

Fadas voam pelo vento, cavalgando ostras,

Riscando o firmamento com um azul mais turquesa.

 

O verde translúcido de uma água gelarente

Subverte o jogo e vence o tempo,

Elevando pequenas conversas à eternidade do momento.

 

É um mundo surreal de pequenas grandes melodias,

Ao redor de um universo de fantasias desenhadas,

Onde uma sereia de sorriso brilhavente

Banha cânticos suaves de desejos libertados

Em oitavas, terças e domingos em família...

 

Viajante antes solitário que navegava a esmo,

Entrego-me agora abertamente a esse abraço macio.

A fragrância das flores dos sete mares

Reúnem-se na prata do seu olhar,

Embalando-me em sono sorridente de filhote.

 

São pedaços de um tempo que não dura,

Flexíveis na moldura de um beijo.

São frações de um espaço sem fronteiras,

Pulsantes na cartografia de um sonho.

 

São, enfim, explosões de poesia plena,

Que espalham versos em lugar ilimitado,

Alimentando com rimas preciosas o coração reencontrado...

 

E o que era antes um passado de dureza,

Jogos de guerra em fim de feira,

É agora música de pulsão multidiomática,

Na vitória da paixão e da beleza...


Autor: Roman Lopes

Guarulhos - SP

Escrito em 2017

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