terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

INTERVENÇÕES ESPONTÂNEAS NO FLUXO DE PENSAMENTO

Há pouco mais de 5 anos, participando de uma experiência performativa, emergiu essa explosão discursiva...

Espero que todas e todos gostem!


INTERVENÇÕES ESPONTÂNEAS NO FLUXO DE PENSAMENTO DA URBANIDADE PLANEJADA

ou

James Joyce renasceu em Itabira

 

O fluxo branco do papel atravessado pela monocromia colorida da tinta que passeia por ruas de ideias e avenidas de espaços possíveis, contemplando edifícios cinzentos enfeitando-se com os dourados de um escudo de bronze, navegando no mar de automóveis que cortam rios de pessoas apressadas em seu cotidiano de pão e circo.

Homens e mulheres dançam no baile ensaiado dos espetáculos de gala, vestidos com seus trajes de banho noturno, calçando as sandálias do sarcasmo fabricado pelos donos de seus desejos. Uma festa em que todos são convidados e garçons, servindo um banquete onde o prato principal são as ilusões divinas de uma salvação distante e improvável.

Caminhos desenhados por compassos estridentes que sem nenhuma compaixão rasgam os céus com sua fumaça de deveres, levando os azuis e os amarelos do sol, traçando riscos de neutralidade naturalista nos eventuais expressionismos que tentam se manifestar em inocências perdidas de caixas de papelão e migalhas de pombos.

A suavidade fluida dos tempos transforma em gelo sólido o vapor dos sabores vendidos nas esquinas, acompanhados de refrescos calorosos com cheiro de frutas e cartazes de refeições onde as esperanças entram e os esfíncteres rotineiros da informalidade subempregatícia expulsam prêmios conquistados com sexo, drogas e rock and roll.

Dentro e fora ficam lado a lado, numa bidimensionalidade arquitetônica de projetos eficientes que usam a higienização pluriangular como linha de fuga dos receios libertários capazes de conquistar o espaço, direcionando olhares ao ponto único de convergência inventada por modelos de autorização e afetos, que habitam esses planos que agora andam de mãos dadas em direção ao futuro já existente.

O sistema circulatório que respira ares de indiferença e competição olímpica convida os habitantes dos castelos da hipocrisia sincera a levantarem de seus tronos carmins e despirem-se de suas coroas de louros, esquecendo-se dos resultados almejados em laudas e mais laudas de debates circundantes, onde a semelhança entre o pré e o pós não está mais somente na inicial, e sim na insistência da mesmice preponderante e póstuma, o que nos faz pensar em zoológicos irregulares – todos eles – e manifestações processadas em liquidificadores.

Quando saem para entrarem nos campos das batalhas dos seus discursos, esses guerreiros de mentira sincera andam como cegos em busca das imagens que existem no fundo de não sei o quê, talvez imaginando que encontraram a pedra filosofal das revoluções transgressoras nas motivações tranquilas dos sofás diante da televisão. Andam pelos túneis de uma fé surda aos apelos pulsantes da verdade que habita bem longe do real, no mundo dos prazeres pervertidos e das dores indigestas.

Equilibrando-se nas cordas bambas das calçadas repletas de solas de sapato, os guerreiros combatem árvores de metal e dragões de carpintaria, sem notarem a pequena rosa que teima em furar as barreiras policiais, numa obstinação drummondiana, para conquistar um pouco de oxigênio, mesmo aquele carbonizado pelas queimas de gordura e pelos cânticos de brancura disfarçados de música de protesto.

A pequena rosa se torna araucária portentosa, no incessante ciclo de existência poética, dificultado pelas barreiras rompidas onde a riqueza multada pela incompetência entra, sai e retorna sempre pela mesma porta, de dobradiças espanadas e buracos de fechadura que só servem para que olhem através deles, edificando fetiches de lama e parindo bombas que explodem no colo dos detonadores da felicidade alheia.

Ela, porém, só quer exibir suas pétalas multicoloridas e brindar a luz da lua com seu perfume prateado, oferecendo em sacrifício sua própria beleza lúdica, para que possamos gozar as nossas próprias esperanças, que resolveram morar em casas de abandono e escadas de andaimes frágeis, fabricados com os bambus arrancados dos programas matinais de vida fácil.

As pedras no meio do caminho, carregadas em sacolas e carrinhos, deixam de ser obstáculos e se transformam em combustível para carimbarem a heroica e vaidosa rosa de forma definitiva nos jogos de tabuleiro e nas performances dos corpos, numa potenciação de expoente mineiro. Drummond está ao cubo, ao dodecágono e isso me faz lembrar que, infelizmente, essa rosa é só uma réstia fugidia da infância no caminho daqueles que insistem em me chamar daquilo que eu não sou, apenas para dizerem o que não sabem e para me presentearem com uma vida que, além de não ser minha, não é vida.

 

Autor: Roman Lopes

Guarulhos - SP

Escrita em 2015 

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Um comentário:

  1. Há uma beleza estranha - e incompreensível - nesse complexo texto poético... Mas creio que essa "incompreensibilidade" foi intencional...
    Não é um texto para se compreender (...exatamente)...

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