quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

EL TIEMPO PASA EN MUCHOS IDIOMAS

Um delírio de experiência real que eu vivi há alguns anos... Será que foi real mesmo?

 

EL TIEMPO PASA EN MUCHOS IDIOMAS

UMA HOMENAGEM MUDA ÀS CANÇÕES DA MINHA MEMÓRIA

    O tempo voa e escoa como um líquido que flui sem parar... Isso traz à memória os relógios de Dali e uma canção adolescente que revive... E é com pouco tempo ou com todo tempo do mundo – outra memória de canção – que eu entro em contato com os cipós de tecido retorcido de Sheila Hicks... Um contato retomado, pois já nos conhecíamos, uma vez que a sua presença em São Paulo no ano de 2012, em uma tríade de tecidos torcidos que compunham muralhas, totens e relógios quebrados não passou despercebida por esse diletante apaixonado pelas artes...

    O tempo me fez voar junto com ele e me levou às árvores de cipós retorcidos do Parque do Ibirapuera, morada momentânea dos cipós de Hicks... Memórias e redescobertas simultâneas pululam como pequenos símios nos galhos e eu caminho em direções diversas, como se estivesse sem rumo, mas ciente do destino que me aguarda... A plena experiência...

    Passando pelo cimento que mancha de cinza o verde do parque, incluindo o próprio habitat de obras como a de Sheila, estacionei abaixo de grandes árvores seringueiras, em referência talvez inconsciente da minha infância... O que chamou a atenção foram as releituras dos cipós de Hicks feitas pela sábia natureza... A inversão da invenção...

    Pensando no tempo, deixei falar bem alto Pink Floyd e o seu lado escuro da lua, apesar do sol que mostrava sua face num céu sem nuvens... E ela – a banda – falou, com suas guitarras contemporizadas e suas sonoridades de correntes quebradas pelos surtos alucinados dos cogumelos plantados à minha volta...

    Os cipós das árvores cresceram para baixo, num paradoxo maravilhoso que só os loucos conseguem presenciar... E eles me abraçaram... Um abraço intenso e suave ao mesmo tempo. Eu me deixei emaranhar nos infinitos braços e dancei com eles, subindo e descendo, flutuando e pisando forte... Até que, do alto da seringueira, tendo os cipós como braços que saíam das minhas costas, eu me transformei em árvore... A pequena lágrima que passou a escorrer deixou sua transparência para dar lugar ao branco do látex divinal... E eu chorei, um choro convulsivo e redentor, pois ele não vinha só de mim. Era a própria natureza que chorava através dos meus olhos. E os cipós das árvores ganharam as cores dos tecidos retorcidos de Sheila... Uma explosão cromática próxima da eternidade...

    Eu não sei quanto tempo passou e nem sei se passou algum tempo... Os relógios derretidos transformaram-se, em verdade, no relógio quebrado da tríade Hicks que habita agora a minha memória, junto com o totem, a muralha e as canções... O tempo parou de escoar e se tornou onipresente, reverberando sua majestosa ausência...

    O mais importante é que eu fiquei lá, plantado entre as árvores do parque... E elas vieram comigo continuar a minha vida, numa fusão que subverte todas as estruturas e cria inúmeras possibilidades de trajetórias rizomáticas, deixando mais deslumbrante a minha experiência existencial... Como nunca e para sempre... 

 

Autor: Roman Lopes

Guarulhos - SP

Escrito em 2017

 

Obs: quem quiser conhecer um pouco as obras de Sheila Hicks que estavam expostas na Bienal de 2012, bem como outras obras da mesma exposição, acesse:

http://thefakeeconomist.blogspot.com/2012/12/a-arte-nao-termina.html

 

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