MANIFESTO DO
ADEUS QUE NÃO EXISTE
Encontro olhares
brilhantes, ávidos pela maravilha da possibilidade da criação livre.
Inconsciente ainda dominado por noções básicas de sobrevivência. O choque do
encontro inusitado da velha loucura com a continuação da novidade.
Personalidades em formação lançando ideias prontas no oceano tempestuoso da
perdição artística. O conflito natural das gerações invertido pela mágica
liberta da criatividade anárquica. Os corações pulsam em arritmia compassada,
confusos entre o susto daquilo que muitas vezes parece errado e as promessas
difusas da sensação de encontro. Vejo nesses corações as manifestações de
velhas raízes, quase sempre cuspidas à força pela comodidade do hábito, mas
vejo também o espaço da pureza verdadeira, querendo ser preenchido pela
autêntica manifestação da vida. Penetro nessa caverna obscura e imprevisível,
sem saber ao certo se há uma luz no fim do túnel. Sou arranhado pelas pedras
invisíveis das falsas avaliações, machucando o velho coração de poeta que
algumas vezes chora na solidão da lacuna incompreendida... Mas entre lágrimas e
sangue vejo nascer a flor fantástica da transformação. As flores se multiplicam
no jardim mágico da juventude, criando uma natureza paralela onde não existe
espaço para a imposição divina de valores vazios e distorcidos. A caverna dos
corações quase enfartados começa a se encher de fantasia luminosa e a alegria
do encontro pleno cicatriza todas as feridas do coração do poeta...
O brilho dos olhares
cresce de forma exponencial, atingindo a altura das estrelas mais distantes,
percorrendo todo o infinito na fração de um instante, medida de tempo perfeita
para quem mergulha na eternidade. A explosão multicolorida que vem em seguida é
surpreendente... E esse velho poeta que acreditava já ter visto de tudo na
vida, depara-se com a fantástica e maravilhosa manifestação da emoção em estado
bruto, diamante que não precisa de lapidação, pois é a pedra mais rara nesse
mundo de ouro de tolos. A emoção vai em todas as direções, desrespeitando
regras e mudando o resultado do jogo, tirando a mesmice do empate que insiste
em existir, transformando derrotas na vitória da verdadeira vida.
O poeta começa a rir das
piadas de mau gosto, sustentando-se nessa emoção que não tem mais medida,
tamanha é a sua sinceridade. Todos os valores vazios da existência ficam
menores diante da felicidade cúmplice daqueles que passam a, simplesmente,
criar. Os sorrisos se espalham nos rostos que antes eram máscaras e a juventude
que todos acreditavam amorfa e sonolenta começa a ensinar ao velho poeta que a
salvação está mais próxima do que ele imaginava, salvação que não depende mais
de nenhum deus da virtude maquiada, pois está no íntimo de cada ser que se
permite viver a experiência simples e sincera da ARTE...
O tempo, no entanto, é implacável. Chegou a
hora de transformar toda essa felicidade em saudade, pois o velho poeta volta
agora ao seu caminho solitário. A juventude caminha para o massacre cotidiano
do sucesso ilusório. É a hora da despedida... O poeta enxerga os olhares ávidos
pela última vez, querendo que eles não se apaguem jamais... As lágrimas já
começam a brotar novamente dentro do coração cansado pela luta...
O poeta, entretanto, não
se entrega... Crava definitivamente no campo de suas memórias as lembranças
doces do tempo da plenitude, plantando para sempre no terreno do seu coração
toda a emoção da experiência vivida e a certeza de que os jovens imperadores da
liberdade, totalmente transfigurados pela alquimia dessa experiência artística,
carregarão para o futuro esse tempo de conflitos e descobertas...
É a vitória da emoção
sobre o tempo...
É a manifestação do amor
mais profundo...
É a real existência da
eternidade...
É a verdade absoluta!
Adeus, meus queridos
companheiros de tempestade!
Olá, meus queridos amigos
artistas!
Sejam felizes em suas
jornadas!
Sejam bem vindos ao mundo
da ARTE!
Evoé!
Muito obrigado por tudo e muitos
beijos desse velho poeta solitário!
Autor: Roman Lopes
Guarulhos - SP
Escrito em 2010
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