quinta-feira, 6 de agosto de 2020

MANIFESTO DO ADEUS QUE NÃO EXISTE

De um baú de antigos discursos, resolvi resgatar esse manifesto, dirigido a uma turma de estudantes que cruzou o meu caminho... A década que separa esse texto dos tempos de agora me faz questionar se são minhas essas palavras ou se elas pertencem a alguém que já se foi... Fica, então, a poética da memória... Espero que todas e todos gostem!

MANIFESTO DO ADEUS QUE NÃO EXISTE

 Falar de um tempo de relações plenas...

Encontro olhares brilhantes, ávidos pela maravilha da possibilidade da criação livre. Inconsciente ainda dominado por noções básicas de sobrevivência. O choque do encontro inusitado da velha loucura com a continuação da novidade. Personalidades em formação lançando ideias prontas no oceano tempestuoso da perdição artística. O conflito natural das gerações invertido pela mágica liberta da criatividade anárquica. Os corações pulsam em arritmia compassada, confusos entre o susto daquilo que muitas vezes parece errado e as promessas difusas da sensação de encontro. Vejo nesses corações as manifestações de velhas raízes, quase sempre cuspidas à força pela comodidade do hábito, mas vejo também o espaço da pureza verdadeira, querendo ser preenchido pela autêntica manifestação da vida. Penetro nessa caverna obscura e imprevisível, sem saber ao certo se há uma luz no fim do túnel. Sou arranhado pelas pedras invisíveis das falsas avaliações, machucando o velho coração de poeta que algumas vezes chora na solidão da lacuna incompreendida... Mas entre lágrimas e sangue vejo nascer a flor fantástica da transformação. As flores se multiplicam no jardim mágico da juventude, criando uma natureza paralela onde não existe espaço para a imposição divina de valores vazios e distorcidos. A caverna dos corações quase enfartados começa a se encher de fantasia luminosa e a alegria do encontro pleno cicatriza todas as feridas do coração do poeta...

O brilho dos olhares cresce de forma exponencial, atingindo a altura das estrelas mais distantes, percorrendo todo o infinito na fração de um instante, medida de tempo perfeita para quem mergulha na eternidade. A explosão multicolorida que vem em seguida é surpreendente... E esse velho poeta que acreditava já ter visto de tudo na vida, depara-se com a fantástica e maravilhosa manifestação da emoção em estado bruto, diamante que não precisa de lapidação, pois é a pedra mais rara nesse mundo de ouro de tolos. A emoção vai em todas as direções, desrespeitando regras e mudando o resultado do jogo, tirando a mesmice do empate que insiste em existir, transformando derrotas na vitória da verdadeira vida.

O poeta começa a rir das piadas de mau gosto, sustentando-se nessa emoção que não tem mais medida, tamanha é a sua sinceridade. Todos os valores vazios da existência ficam menores diante da felicidade cúmplice daqueles que passam a, simplesmente, criar. Os sorrisos se espalham nos rostos que antes eram máscaras e a juventude que todos acreditavam amorfa e sonolenta começa a ensinar ao velho poeta que a salvação está mais próxima do que ele imaginava, salvação que não depende mais de nenhum deus da virtude maquiada, pois está no íntimo de cada ser que se permite viver a experiência simples e sincera da ARTE...

 O tempo, no entanto, é implacável. Chegou a hora de transformar toda essa felicidade em saudade, pois o velho poeta volta agora ao seu caminho solitário. A juventude caminha para o massacre cotidiano do sucesso ilusório. É a hora da despedida... O poeta enxerga os olhares ávidos pela última vez, querendo que eles não se apaguem jamais... As lágrimas já começam a brotar novamente dentro do coração cansado pela luta...

O poeta, entretanto, não se entrega... Crava definitivamente no campo de suas memórias as lembranças doces do tempo da plenitude, plantando para sempre no terreno do seu coração toda a emoção da experiência vivida e a certeza de que os jovens imperadores da liberdade, totalmente transfigurados pela alquimia dessa experiência artística, carregarão para o futuro esse tempo de conflitos e descobertas...

É a vitória da emoção sobre o tempo...

É a manifestação do amor mais profundo...

É a real existência da eternidade...

É a verdade absoluta!

Adeus, meus queridos companheiros de tempestade!

Olá, meus queridos amigos artistas!

Sejam felizes em suas jornadas!

Sejam bem vindos ao mundo da ARTE!

Evoé!

Muito obrigado por tudo e muitos beijos desse velho poeta solitário!


Autor: Roman Lopes

Guarulhos - SP

Escrito em 2010



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